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“Não conseguia dormir sem pensar em jogar. A minha vida era só jogar e arranjar maneira de conseguir dinheiro para jogar mais”-Carlos Melo de 36 anos no podcast "Que Voz é Esta?"

Nos últimos anos, houve um grande aumento no número de pessoas envolvidas nos casinos online e apostas desportivas, levando a um aumento nos casos de dependência. Apenas no ano passado, mais de 215 mil pessoas em Portugal solicitaram auto-exclusão devido a não conseguirem controlar o vício, pedindo para serem proibidas de entrarem em todas as casas de jogo. Carlos Melo, 36 anos, compartilhou a sua história de luta contra a dependência no podcast “Que Voz é Esta?”, onde detalhou como o vício quase destruiu a sua vida. 

Na primeira vez que foi a um casino, Carlos Melo gastou toda a sua poupança numa noite. Ele percebeu que isso poderia ser um sinal de compulsão e decidiu não voltar a entrar numa casa de jogo. No entanto, quando as apostas desportivas online se tornaram populares em Portugal, ele rapidamente se tornou viciado. Inicialmente, apostava pela emoção e com a esperança de ganhar muito dinheiro. Mas depois tornou-se apenas um vício. Ele não conseguia dormir sem pensar em jogar, quer ganhasse ou perdesse. “A minha vida era só jogar, jogar e arranjar maneira de conseguir dinheiro para jogar mais”, conta no mais recente episódio do podcast “Que Voz é Esta?”.

18 ABRIL 2024, Expresso

"No online não é dinheiro, são números. Perdi a noção do dinheiro"- João

"Um vazio dentro de mim[...] Fiquei sem dinheiro para comer, para pagar renda, para nada..."-Luís Silva de 28 anos

"O online é... a heroína do jogo. Vais uma vez, vais a segunda, vais a terceira, quando dás conta já lá estás"- Madalena (nome fictício)

João, que prefere não revelar o seu sobrenome, tem pouco mais de 40 anos e lutou contra o vício dos jogos ao longo de duas décadas, estimando que perdeu pelo menos 500 a 600 mil euros, embora ele admita que provavelmente tenha sido mais.

Durante esse tempo, João levava uma vida secreta para os amigos e família. Ele descreve esses anos como uma “vida dupla”, onde constantemente arranjava dinheiro, pagava dívidas e repetia o ciclo, sempre tentando justificar os seus gastos. João começou a jogar durante a época áurea dos casinos, mas com a ascensão da internet, mudou para jogos de azar online e apostas desportivas. “Foi a altura em que a quantidade de dinheiro que gastava foi cinco ou seis vezes superior”.  “No online não é dinheiro, são números. Perdi a noção do dinheiro”, confessa depois de seis recaídas, de um divórcio e de um internamento.

A jornada de Luís Silva como apostador começou na adolescência e durou quase uma década.

 O momento crítico foi quando faltavam 0,9 segundos para o final de um jogo da NBA. A equipa de Luís estava prestes a vencer quando um jogador adversário fez um triplo que virou o jogo e a aposta de Luís. Essa jogada significou  “um vazio dentro de mim pois ia ser mais um mês de mentiras, esquemas, truques…” . Para Luís Silva “o jogo passou a ser a solução para todos os problemas” a partir de 2010, com apenas 16 anos, depois de ganhar mil euros ao apostar num empate da seleção portuguesa contra o Chipre o que lhe provocou “uma sensação de adrenalina” indescritível que queria “voltar a sentir.

Hoje, com 28 anos, Luís não joga há mais de dois anos e compartilha a sua história para ajudar aqueles que sofrem em silêncio com uma dependência semelhante.

A Associação Portuguesa de Casinos admitiu que a pandemia e o encerramento prolongado das instalações desviaram muitos clientes para os jogos online, e muitos deles não voltaram.

Madalena (nome fictício), uma jovem de pouco mais de 30 anos, começou a frequentar casinos pouco antes da pandemia, mas com o confinamento, ela optou pelos jogos online. “Estava muito tempo em casa, muito tempo fechada e naquela altura não havia como sair para ir ao casino”, recorda. Assim, ela começou a jogar online, e o hábito rapidamente se tornou viciante.

Madalena parou de jogar há cerca de dois meses, mas acumulou mais de 30 mil euros em dívidas. Ela também perdeu o seu emprego e enganou amigos, que acabou por perder.“Nós conseguimos transformar uma pedra em ouro se precisarmos de dinheiro”.

8 JUN 2022, CNN Portugal